O Percurso De Uma Lágrima

Um fato triste

Uma discussão

Um amor que não existe

Uma desilusão

Avisam pra ela sair

Mas ela firme se segura

Evitando assim cair

Espera um gesto de ternura

Quando os olhos se fecham

Ela já está escorrendo

Lentamente percorre a face

De quem muito está sofrendo

Estragando a maquiagem

De alguém que se escondia

Fingia estar tudo bem

Quando o coração doía

Então ligeiro ela cai

Fica esquecida no chão

Depois de abraços de um amigo

E de palavras de um irmão

Ninguém mais se lembra dela

Passageira e pequena

Pois sempre depois de um tempo

Um sorriso rouba a cena

E assim quem derramou

Aquela lágrima de dor

Hoje nem se lembra mais

Por ser algo sem valor

Esse é o percurso de uma lágrima

Muito rápido e preciso

Comparado a algo eterno

Como o percurso de um sorriso.

O Vende-dor

Era uma vez um vendedor

Vendia tristeza, sofrimento e dor

Vendia preconceito embrulhado de amor

Vendia uma abrangente inversão de valor

Vendia inveja, ganância, egoísmo

Vendia ignorância e materialismo

Vendia arrogância e superficialidade

Mas anunciava como felicidade

E todos seus clientes viviam só pra isso

Esquecendo a família e rompendo o compromisso

E aquele vende-dor que trabalhava o tempo inteiro

Enriquecia mesmo nunca tendo cobrado dinheiro...

...Pois o dinheiro era seu produto 

 

Se Meu Cachorro Falasse

Se meu cachorro falasse

Ele contaria quando está com fome

E me chamaria pelo nome

Ele entenderia por que deve tomar banho

E me diria a graça de latir pra um estranho

Sempre quando sai pra passear

E o quanto fica triste quando eu saio de casa

Mas que a alegria é bem maior quando me vê voltar

Mas até que eu volte, fica de olho na janela

Não pra paquerar quando passa uma cadela

Mas apenas para me esperar

Se meu cachorro falasse

Ele me diria como gosta de carinho

E de quando eu jogo a bolinha pra ele pegar

Como gosta de atenção

Ele abana o rabo quando é tanta a emoção

Que o próprio coração não pode apenas bombear

O cachorro tem um jeito próprio de amar, de perdoar

Os humanos deveriam aprender a ser assim

Porque mesmo quando falam, não se entendem entre si

Então se meu cachorro falasse

Acho que ele apenas diria que não precisamos de palavras

Para que um entenda o outro

Hoje

Perguntei para várias pessoas sobre uma dúvida que tinha do dia de hoje:

“Que dia é hoje?”

- Hoje é dia de plantar.
Respondeu uma criança.

- Hoje é dia de colher.
Respondeu um adulto.

- Hoje é dia de viver.
Respondeu o jovem.

- Hoje é dia de dizer que dia é hoje.
Respondeu o sarcástico.

- Não sei.
Respondeu o preguiçoso.

- ...
(Não) respondeu o mudo.

- Que?
Respondeu o quase surdo.

- Hoje é dia de pensar nela.
Respondeu o apaixonado.

- Hoje é dia de pensar.
Respondeu o sábio.

- Hoje? Bom... Não sei se o hoje realmente existe. O agora não é concreto, sempre passa. Se eu for responder o que era o hoje no momento em que você perguntou, que certamente já passou, estaria descrevendo o ontem. Sendo assim, é impossível responder qualquer coisa relacionada ao presente, que agora já é passado, pois o hoje não se prende a uma limitação de 24 horas. Na verdade a “meia noite” pode ser o ontem da “meia noite e um segundo”. Estamos condenados a deixar para a lembrança cada ato, cada pergunta, cada resposta. Cada pensamento sobre o agora. Não existe o tempo, assim como não existe água que se possa segurar entre os dedos.
Respondeu o filósofo.

 Insatisfeito, continuei perguntando, e finalmente encontrei a resposta que tanto procurei:

- Hoje é quarta-feira.

Uma boa quarta-feira para todos os leitores do blog (como se alguém ainda lesse isso aqui).
(Ou um bom Domingo, boa Segunda, Terça, Quinta, Sexta, Sábado... seja lá que dia você ler esse texto).